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Nossas Conferências.
Conferência: O Atlântico Lusófono Negro numa Perspectiva Comparativa.
Data: 10-11 Março 2005
Lugar: Institute for the Study of the Americas, University of London
Room 12, 35 Tavistock Square
Organizadores: David Treece, Nancy Naro e Roger Sansi-Roca, Centre for the Study of Brazilian Culture and Society, King’s
College London.
Apesar da influência do trabalho de Gilroy (1993) em definir o campo conceitual do Atlântico Negro, o mundo Lusófono encontra-se
ausente desse trabalho, como já foi indicado por alguns brasilianistas. No marco de uma história cultural lusófona, a perspetiva
dominante tem sido a da expansão imperial cf. Boxer 1991, Russell-Wood 1992), ou tem se limitado às fronteiras nacionais (Russell-Wood
1982) ou ao período colonial dos primeiros tempos (Russell 1995). Por outro lado, o trabalho sobre questões culturais particulares,
incluindo a história da música negra, tem sido até pouco tempo atrás tipicamente focado em debates sobre a identidade nacional
e a autenticidade, e raramente em fluxos e trocas transnacionais.
Porém, existem novas propostas que sugerem novas vias de pesquisa. Por exemplo, Alencastro (2000) descreve o Atlântico Sul
Português nos séculos XVI e XVII, como um sistema unificado integrando as plantações brasileiras com as “feitorias” de escravos
em Angola num único arquipélago lusófono. Por outro lado, Matory (1999), tem apontado a natureza dialógica da moderna cultura
afro-atlântica na costa latino- americana, baseada nas idas e vindas dos retornados brasileiros e cubanos nos portos da África
Ocidental no século XIX e início do XX. Esse fenômeno também é o objeto da pesquisa de Guran (1999) e o novo volume editado
por Mann e Bay (2001).
Em estudos recentes de etnicidade e música popular brasileira, tem havido algumas referências isoladas ao impacto da história
dos inícios do samba em relação ao cenário musical europeu nos anos 20 (Vianna 1999), enquanto novas linhas de pesquisa sobre
o impacto cultural da globalização (e.g. Lipsitz 1994) e o papel das políticas culturais da Diáspora Negra (e.g. os movimentos
de Independência africana e o Rastafarianismo do Caribe) na emergência de um novo movimento da consciência negra na Bahia
tem respaldado uma aproximação mais trasnacional à cultura contemporânea afro-brasileira, como podemos ver em Perrone e Dunn
(2001).
Esse último estudo, porém, se concentra no contexto nacional, e ainda não existe um trabalho sistemático que tome o Atlântico
Lusófono Negro como um marco de análise, ou que explore de forma integrada os fluxos multi-direcionais das culturas diaspóricas
e os diálogos entre elas. O projeto “Culturas do Atlântico Lusófono Negro procura preencher esse vazio, para redefinir o mapa
das disciplinas, e para abrir uma nova direção que está sendo trabalhada em outras áreas de estudos transatlânticos e da Diáspora.
Durante os dois dias da conferência vamos discutir as vantagens, possibilidades e até os límites de propor o Atlântico Lusófono
Negro como espaço de pesquisa. As sessões vão procurar responder questões compartilhadas e perspetivas comparativas (p.e.
por que o " Atlântico Negro" melhor que "culturas Afro-Americanas", ou o "triangulo lusófono"). A utilidade de conceitos como
miscigenação, hibridação, creolização, sincretismo: a especificidade de o contexto Lusófono em relação as políticas raciais)
que podem fazer confluir pesquisas em curso em disciplinas, areas geográficas e históricas diversas.
Programme
THURSDAY 10 MARCH
9.15 Registration
9.45: Welcome and Introduction
James Dunkerley, Institute for the Study of the Americas, and David Treece, Centre for the Study of Brazilian Culture and
Society, King’s College London.
10.00: SESSION 1: HISTORICITIES AND CONTINUITIES
-
Historical roots of homosexuality in the Black Lusophone Atlantic: The Quimbanda in Angola and Brazil - Luiz Mott, Universidade Federal da Bahia
-
The Fetish in the Lusophone Black Atlantic - Roger Sansi-Roca, King’s College London
- 11.30-12.00: Coffee
-
A Bahian counterpoint of sugar and oil: global commodities, durable inequalities and race relations in São Francisco do Conde - Livio Sansone, Universidade Federal da Bahia
- DISCUSSION
- 1.15: LUNCH
2.30: SESSION 2: THE PORTUGUESE EMPIRE AND THE ATLANTIC
-
Continental drift: the independence of Brazil (1822), Portugal and Africa - Luiz Felipe de Alencastro, Université de la Sorbonne, Paris.
-
Mixed race people in the Portuguese Empire: cultural nature or political necessity? - Francisco Bethencourt, Universidade Nova, Lisboa.
- 4.00: Tea and DISCUSSION
FRIDAY 11 MARCH
10.00: SESSION 3: MIGRATIONS AND IDENTITIES
-
Agudás from Benin: Brazilian identity as a bridge to citizenship - Milton Guran, Universidade Cândido Mendes
-
Baneanes and monhês: processes of disidentification, from Diu to London, through Inhambane and Lisbon - Omar Thomaz, UNICAMP- CEBRAP
- 11.30-12.00: Coffee
-
Emigration and the Spatial Production of Difference from Cape Verde - Kesha Fikes, University of Chicago
- DISCUSSION
- 1.15: Lunch
2.30: SESSION 4: HYBRIDITIES AND MULTICULTURALISM
-
The Brown Atlantic: Anthropology, Postcolonialism, and the Portuguese-Speaking World - Miguel Vale de Almeida, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisbon
-
Undoing Brazil: hybridity versus multiculturalism - Peter Fry, Federal University of Rio de Janeiro
- 4.00: Tea and DISCUSSION
Conferência: O Atlântico Português: África, Cabo Verde, os Estados Unidos e o Brasil .
Data: 6 Julho - 10 Julho 2005
Lugar: Mindelo, São Vicente, Cabo Verde
Na nossa conferência anterior, Sociedades crioulas nos impérios coloniais holandês e português organizada em King’s College London em setembro 2004, focalizou-se na emergência de sociedades crioulas na África e no Oceano
Índico. A Conferência proposta para Cabo Verde no ano seguinte deslocará o foco ao Atlântico.
O título é O Atlântico Português: África, Cabo Verde os Estados Unidos e o Brasil .
A historiografia dos últimos quarenta anos mostrou claramente que a África, longe de ser um sertão isolado, subdesenvolvido,
foi um lugar de contato e mediação dos povos e das culturas em grande escala. Um resultado deste processo foi a emergência
de sociedades de contacto onde os africanos se encontraram com outros de fora do continente, absorvendo-as e engajando-se
com elas. A maioria destas sociedades- mas não todas - estiveram envolvidas no comércio e desenvolveram características distintivas
em conseqüência deste encontro. Muitas eram as sociedades mestiças de atravessadores, como nas costas e ilhas da África Oriental
e Ocidental; outras, como as dos prazos do Zambesi, estavam mais baseadas no território; outros ainda, como os Coloureds de África do Sul eram pastores ou artesões
assalariados dentro de uma sociedade colonial dominada pelos brancos.O que liga estes grupos diversos é que eles e seus contemporâneos
freqüentemente sublinhavam a natureza misturada da sua herança cultural e mantiveram laços, ainda que tênuos, através dos
mares. A conferência conseqüentemente olhará também as conexões que estas sociedades mantiveram com a(s) diáspora(s) africana(s)
no Atlântico e nas Américas.
Podia isto ser chamado de crioulização? O debate é intenso entre muitos africanistas hostis ao uso de tal termo. Contudo '
a hibridização ' e ' as identidades crioulas’ são extensamente os termos aceitos e recebem muita atenção no contexto das Caraíbas
e da América (Norte e Sul); formando uma corrente significativa da ‘nova’ história do Império Britânico e no desenvolvimento
do conceito ' de um império na sombra ' dentro da historiografia portuguesa. Em um contexto maior, a conferência procurará
dar também uma contribuição significativa às discussões urgentes - acadêmicas e práticas - da identidade, do nacionalismo,
da etnicidade e do poder político que são de importância crítica no século XXI. Com algumas exceções particulares, o debate
ocorreu, na maior parte, sem muita participação dos africanistas, como se o continente tivesse pouco a contribuir para a discussão
de tais questões.
Esta conferência propõe-se a preencher esse vazio, explorando as sociedades crioulas africanas e as comunidades com quem mantiveram
contactos nas Américas. As perguntas centrais na conferência vão ser como estas sociedades se fomaram, como as identidades
foram negociadas e re-negociadas, que papéis representaram na história da África, dos Estados Unidos e do Brasil nos âmbitos
econômico, político, cultural e social, e que o impacto durável tiveram. O conceito de ‘um Atlântico Negro' será estendido
de seu foco original no mundo anglófono ao lusófono e olhará os contactos culturais, sociais e econômicos mantidos entre
a África, os Estados Unidos e o Brasil, usando freqüentemente as ilhas ' crioulas ' do Atlântico como canalizadores da migração
e da troca cultural.
A Conferência resultará em um volume editado que contribua para o debate sobre desenvolvimento e troca cultural na comunidade
atlântica e nas ligações históricas entre as sociedades crioulas, os Estados Unidos e o Brasil.
Detalhes do contacto:
Professor M.Newitt,
Department of Portuguese and Brazilian Studies, King’s college, Strand, London WC2R 2LS; tel 020 7848 1827; e-mail malyn.newitt@kcl.ac.uk
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